Entoando “Fora Noboa!”, uma marcha convocada por estudantes e movimentos sociais sacudiu o centro de Quito contra o presidente do Equador e sua política de crise elétrica, com apagões de até 14 horas diárias e negligência quanto à segurança pública, gerando um brutal avanço da criminalidade.
Com faixas e cartazes denunciando a política de arrocho e privatização, os manifestantes avançaram da Universidade Central até a Parça São Domingo, no centro histórico da capital, queimaram imagens de Daniel Noboa semelhantes às utilizadas por ele na campanha eleitoral, e rechaçaram a política recessiva, que poupa recursos para atendier prioritariamente banqueiros e especuladores.
Ao longo de todo o percurso as vozes também se ergueram contra as políticas de “ajuste fiscal” de submissão ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que tem repercutido em cortes no orçamento e atingido programas de créditos populares. Ao mesmo tempo, os manifestantes condenaram a brutal insegurança em que foi mergulhado país, que ostenta a mais alta taxa de homicídios do continente.
DISPARADA NOS HOMICÍDIOS
Em menos de dez anos, o Equador deixou de ser o segundo país mais seguro da América Latina para se tornar o mais violento da região. Segundo o Boletim de Homicídios Intencionais do Observatório Equatoriano do Crime Organizado (OECO), as mortes violentas dispararam de seis por 100.000 habitantes em 2018 para 47/100.000 habitantes em 2023, colocando o país na lista dos dez com maior incidência de crimes. O avanço do narcotráfico foi o fator decisivo para esse banho de sangue.
O mês de agosto foi o mês mais violento de 2024. No total, foram registradas 603 mortes violentas, sendo o primeiro mês em que os números superaram os de 2023, o ano mais violento da história do Equador.
Entre os símbolos deste horror, em 24 de março de 2024, Brigitte García, prefeita de San Vicente, na província (Estado) de Manabi, foi executada ao lado do secretário de Comunicação do município, Jairo Loor, também morto a tiros. Enfermeira, militante do movimento Revolução Cidadã (dirigido por Luisa González e pelo ex-presidente Rafael Correa), tinha 27 anos e era a prefeita mais jovem do país.
CAMPONESES E EMPRESÁRIOS DENUNCIAM PERDAS COM APAGÕES
“Este é um governo irresponsável”, afirmou Marcelo Ushiña, presidente da Federação Nacional de Organizações Camponesas, frisando que “o sistema leiteiro está falido neste momento, assim como o sistema floral, por causa dos apagões”. Ushiña também denunciou a crescente violência provocada pela disparada no tráfico de drogas.
O presidente do Comitê Empresarial do Equador, María Paz Jervis, declarou ao canal Teleamazonas que – durante a atual fase de cortes de energia – as vendas em todo o país caíram 20%. “Isto é muito dinheiro”, alertou a líder empresarial, que sustenta que as perdas já alcançam os quatro bilhões de dólares. De acordo com os empresários, cada hora sem energia significa uma perda de 12 milhões de dólares para o país.
Em 2024, a região deu o alarme sobre uma seca prolongada associada às alterações climáticas, que causou racionamento de água e energia e incêndios florestais, sem que o governo respondesse às reivindicações da sociedade. O Equador necessita de cerca de 4.600 MW e enfrenta um déficit de pelo menos 1.600 MW na geração de energia.
Diante da tragédia em curso e do corte nos investimentos, os movimentos sociais decidiram voltar às ruas na próxima sexta-feira (15) com ações de fato “contra este governo antipopular”.