A primeira coisa que precisa ser destacada ao pensarmos em não monogamia lésbica é que a monogamia nunca se aplicou a homens. Eles nunca foram cerceados de seus desejos e nunca tiveram suas vidas ameaçadas, de forma estatisticamente comprovada, ao não compactuar, em algum grau, com essa posição; pelo contrário, este reconhecimento majoritário do gênero masculino como monogâmico tem servido e ainda serve amplamente como uma ferramenta de dominação patriarcal que, juntamente com outros mecanismos, é estruturante da sociedade.
A monogamia garante, também, a supremacia dos maridos sobre suas esposas, pela exploração do trabalho doméstico e do cuidado dos filhos, pela alienação do direito ao aborto, pela exclusão da mulher dos espaços públicos e encarceramento nos espaços privados, pela dependência emocional e financeira a que a sociedade submete o gênero feminino, entre outros.
Porém, mesmo se observamos relações monogâmicas entre casais lésbicos, veremos que o panorama é diferente. Ainda que essas adotem a exclusividade, não é correto afirmar que elas reproduzem as mesmas estruturas de opressão heteronormativa. Tendo em vista que a monogamia, tal como é definida no contexto heterossexual, está profundamente enraizada em uma lógica de controle patriarcal sobre as mulheres. Nas relações entre mulheres, essa dinâmica é subvertida, já que não há a presença masculina como agente controlador, o que possibilita que a escolha pela exclusividade tenha um significado menos opressor.
Por outro lado, a não monogamia na comunidade lésbica, especialmente no Brasil, tem emergido como uma prática política e ética de resistência contra o patriarcado. Para muitas lésbicas, a prática da não monogamia é uma maneira de subverter as normas heteronormativas que ditam que o amor romântico e os relacionamentos só podem existir dentro de um modelo exclusivo e hierárquico. Essa perspectiva é particularmente relevante em contextos de luta por liberdade sexual e afetiva, onde a não monogamia é vista como uma escolha deliberada para romper com os padrões impostos pelo patriarcado.
Comparação com a comunidade lésbica internacional
Globalmente, o debate sobre não monogamia na comunidade lésbica reflete desafios similares, mas com nuances culturais. Nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, por exemplo, estudos recentes indicam que cerca de 30% das lésbicas em alguns círculos aderem a algum tipo de relacionamento não monogâmico consensual, buscando formas de amar que enfatizem a autonomia individual e a rejeição às estruturas patriarcais de controle. Esses comportamentos são amplamente discutidos em espaços acadêmicos e ativistas feministas, especialmente em países onde movimentos queer e feministas são mais estabelecidos e influentes. A não monogamia, nesse contexto, é frequentemente associada à liberdade sexual, ao rompimento de normas de gênero e à criação de redes afetivas amplas e solidárias.
No Brasil, a realidade é marcada por uma relação mais complexa com a não monogamia.
Embora essa prática também esteja em crescimento, principalmente entre mulheres lésbicas mais jovens e ativistas feministas, a discussão sobre o tema ainda enfrenta resistência em certos setores da comunidade LGBTQIA+. Além disso, o conservadorismo social e religioso que permeia o Brasil influencia a forma como a não monogamia é vista, muitas vezes sendo interpretada como imoral ou desviada, dificultando a adoção desse modelo por algumas mulheres.
Por outro lado, em países onde os direitos LGBTQIA+ são mais amplamente protegidos, como na Suécia, no Canadá ou na Nova Zelândia, a não monogamia dentro da comunidade lésbica tem sido abraçada com menos resistência. Nesses lugares, a proteção legal e o suporte social permitem que as lésbicas explorem modelos relacionais mais fluidos sem as mesmas consequências negativas enfrentadas em contextos em que o conservadorismo social ainda é forte.
O papel político da não monogamia na resistência lésbica
Em ambos os contextos, porém, a prática da não monogamia entre lésbicas não se limita a uma mera preferência relacional. Ela é uma escolha política que visa desmantelar as estruturas de poder que controlam as mulheres. Ao questionar a monogamia compulsória, as mulheres lésbicas estão também questionando uma das principais ferramentas do patriarcado: o controle sobre os corpos e as emoções femininas. Nesse sentido, a não monogamia lésbica é, por si só, um ato de resistência contra o patriarcado e a heteronormatividade.
No entanto, é fundamental reconhecer que a não monogamia, embora subversiva, não deve ser imposta como única alternativa viável. Para muitas mulheres lésbicas, especialmente aquelas em situações de vulnerabilidade, a escolha pela exclusividade pode ser uma forma de garantir segurança e estabilidade. Isso mostra que, no contexto das relações lésbicas, a liberdade afetiva e sexual pode se manifestar de diferentes formas, sem que uma anule ou sobreponha a outra.
Pessoalmente eu não me identifico como mulher, pessoa feminina nem como “não-mono”.
Não acredito que o ato de você abrir o relacionamento vai desmantelar o sistema.
Não gosto do fato de ê autore do texto utilizar como referência artigos do site QG Feminista que é conhecido por pregar transfobia e possuir uma visão condescendente, para dizer o mínimo, das trabalhadores sexuais. Acredito que elu poderia ter recorrido a melhores fontes.
Mas apesar da minha crítica pessoalmente acho que isso pode ser uma boa referência para uma discussão sofre a comunidade sáfica e a não-monogamia.