O primeiro grupo de migrantes enviado pela Itália para os novos centros de identificação e acolhimento financiados pelo governo da primeira-ministra Giorgia Meloni na Albânia chegou ao porto de Shengjin nesta quarta-feira (16/10).
A proposta objetiva desviar o fluxo migratório no Mar Mediterrâneo em direção à Itália. Assim, foi criticado por organizações de direitos humanos e pela oposição italiana, mas aplaudido pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, como um modelo a ser seguido por outros países.
De acordo com informações obtidas pela agência italiana ANSA, os migrantes, 10 bengaleses e seis egípcios, partiram no navio Libra, da Marinha Militar italiana, em uma operação coordenada pelo Ministério do Interior italiano.
Os 16 homens adultos, interceptados em águas internacionais ao sul da ilha italiana de Lampedusa, serão identificados e passarão por exames de saúde. Todos eles serão transferidos para o outro local “italiano” em Gjader, no interior rural da Albânia, onde aguardarão o resultado de seu pedido de proteção internacional para requerentes de asilo.
As transferências englobam apenas migrantes provenientes de países considerados “seguros” por Roma, homens e que não estejam em situação de vulnerabilidade.
Os centros albaneses, de Shengjin e o de Gjader, que inicialmente deveriam ter sido abertos em maio, mas tiveram a inauguração adiada por atrasos na construção e nos procedimentos, são o resultado de um acordo entre Meloni e o primeiro-ministro albanês, Edi Rama.
Sobre o novo procedimento, Meloni declarou que este é um “bom exemplo” da Itália. A mandatária de extrema direita destacou ainda que este “é um caminho que reflete perfeitamente o espírito europeu e que tem tudo o que é necessário para ser seguido por outras nações não pertencentes à UE também”.
Por sua vez, a organização internacional de resgate de migrantes e refugiados no Mar Mediterrâneo Sea Watch denunciou que o acordo entre Itália e Albânia é baseado em deportações.
“Esta estrutura que custará aos italianos centenas de milhões de euros, baseia-se em um modelo mal sucedido. São verdadeiros campos de concentração já presentes em várias regiões italianas”, declarou por meio das redes sociais.
Sea Watch denunciou que centros na Albânia “são campos de concentração já presentes em várias regiões italianas” Questão migratória no Mediterrâneo Palco de crises migratórias consecutivas, o Mar Mediterrâneo é uma das principais rotas migratórias do mundo, em que muitos imigrantes e refugiados visam chegar à Europa através da Itália.
Organizações internacionais de resgate como a Sea Watch avaliam, contudo, que a crise é resultado da abordagem que a União Europeia tem usado para lidar com o fenômeno. Para Giorgia Linardi, porta-voz da ONG, a UE “não fornece nenhuma solução para o gerenciamento dos fluxos migratórios”.
“Já fazem cerca de 30 anos que estamos enfrentando o fluxo de pessoas através do mar Mediterrâneo Central. É um fenômeno que nos preocupa e que nos preocupará no futuro”, afirmou, explicando que o cenário seguirá caso o bloco continue a considerar o assunto migratório apenas como uma emergência, que só deve ser contornada.
De acordo com ela, a União Europeia regulamenta os assuntos migratórios por meio de ferramentas legislativas chamadas “decreto-lei”, usadas em situações emergenciais em busca de soluções imediatas.
Após anos de decretos anti-migratórios e tentativas de tornar a Europa inacessível, Linardi acredita que “os governos europeus não têm a menor ideia de como implementar políticas de migração de uma maneira diferente”.