Após o resultado das eleições austríacas no último domingo (29/09), que consolidou o avanço do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), protestos contra uma coalizão de extrema-direita foram marcados para a próxima quinta-feira (03/10), em Viena.

A manifestação está prevista para às 18h, em frente ao parlamento. O movimento responsável, que já reuniu milhares de pessoas no passado, volta à cena política sob o lema “Es ist wieder Donnerstag” (É quinta-feira novamente!) em uma tentativa de frear a ascensão do FPÖ ao governo.

“Estamos lutando por um mundo de solidariedade, uma sociedade que olha para frente e não volta para o último milênio em passos largos”, declararam os organizadores do protesto. A postagem no Instagram convocando a população para os atos já foi visualizada mais de 600 mil vezes até agora, segundo o jornal austríaco Die Presse.

As manifestações, conhecidas como “Donnerstagsdemos“, ou manifestações de quinta-feira, têm um histórico significativo na Áustria. O movimento teve início há quase 25 anos, em 2000, quando 150 mil pessoas protestaram na Heldenplatz contra a primeira coalizão entre o Partido Popular Austríaco (ÖVP) e o FPÖ.

Os protestos também foram retomados em 2018, quando a coalizão entre os dois partidos foi refeita sob a liderança de Sebastian Kurz, do ÖVP, e Heinz-Christian Strache, do FPÖ.

ÖVP busca manter relevância em meio ao avanço do FPÖ

Liderado pelo atual chanceler Karl Nehammer, o ÖVP comemorou seu desempenho no último domingo, apesar de ter alcançado apenas 26,5% dos votos – mesmo não sendo o vencedor, a celebração, ainda segundo o Die Presse, parecia a de um partido vitorioso.

Partido vencedor, o FPÖ, liderado pelo controverso Herbert Kickl, conquistou 29,2% dos votos, enquanto os social-democratas de centro-esquerda ficaram em terceiro lugar, com 21%

Funcionários do partido, conforme o jornal, consideraram o resultado positivo, dado o contexto. “Eles simplesmente não esperavam que o Partido da Liberdade fosse tão forte”, disseram.

Caso o FPÖ forme uma coalizão, será a primeira vez que a extrema direita governará a Áustria desde a Segunda Guerra Mundial. “É preciso dar crédito a Herbert Kickl por isso”, reconheceram integrantes do ÖVP, atribuindo parte desse sucesso aos canais de conspiração na internet, como alguns encontrados no Telegram.

“Dilemas de coalizão no partido de Nehammer: SPÖ ou FPÖ?”

Agora, o ÖVP enfrenta um dilema: formar uma coalizão com o Partido Social-Democrata (SPÖ) ou com o FPÖ.

Embora as negociações pareçam, conforme o Die Presse, inclinadas ao SPÖ, o partido mantém cautela em relação ao “cartão azul” – uma referência à possibilidade de aliança com o FPÖ.

“Não devemos deixar de lado o cartão azul”, alertou um representante empresarial ligado ao ÖVP, enfatizando que o FPÖ ainda pode ser necessário, caso as negociações com o SPÖ fracassem.

A resistência a uma coalizão com o FPÖ se deve, em parte, às divergências ideológicas, especialmente em questões relacionadas à imigração: enquanto o ÖVP defende regras claras de migração e integração, o FPÖ defende a perseguição de solicitantes de asilo.

As manifestações da quinta-feira buscam impedir a formação de uma nova coalizão entre o ÖVP e o FPÖ, e sinalizam uma resistência crescente às forças de extrema direita.

Com as negociações em curso, a possibilidade de uma coalizão entre o ÖVP e o SPÖ parece, segundo o veículo, a opção mais viável para garantir a posição de chanceler a Karl Nehammer, mas o “cartão azul” permanece na mesa como um recurso estratégico.