Após firmar acordo com a União para a retomada do pagamento da dívida de Minas Gerais, que alcançou R$ 165 bilhões durante as gestões de Romeu Zema (Novo), o governador publicou, nesta quarta-feira (28), um decreto que impõe teto de gastos no estado, congelando o salário e a carreira dos servidores públicos e suspendendo a realização de concursos.

Para a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), a movimentação de Zema se deu por falta de capacidade de debater e aprovar a proposta na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

“O decreto do governador é uma grande ilegalidade. O teto de gastos precisa ser definido por lei específica. A homologação da adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) não isenta o governo da responsabilidade de tomar as medidas legislativas. Não pode ser por decreto. O governo tenta resolver na canetada porque ele não tem voto”, denuncia.

Como lembra a deputada, o projeto de lei complementar que tratava sobre o teto de gastos, enviado aos parlamentares junto ao projeto de implementação do RRF, não foi apreciado pelo legislativo.

“É grave, porque o teto de gastos impõe restrições severas. Também vai abrir a porteira para a privatização nas áreas da saúde, educação, segurança pública e meio ambiente. É uma situação absurda e o governo escolheu ir pela ilegalidade”, continua Cerqueira.

Tentativa de reversão

O bloco Democracia e Luta, de oposição ao governo na ALMG, protocolou um Projeto de Resolução para anular a ação de Zema. Os deputados consideram que “o governador foi arbitrário, inconstitucional e autoritário”, ao ignorar o legislativo e a opinião da população mineira.

“Minas Gerais é o único estado do país a implementar o teto de gastos sem autorização da Assembleia Legislativa. O povo mineiro não pode pagar a conta da inércia e da irresponsabilidade de um governo que está há seis anos sem pagar uma parcela da dívida de Minas com a União, enquanto aumenta o próprio salário em 300% e dá benefícios fiscais bilionários para seus financiadores de campanha”, enfatiza o bloco, em nota.

Se não for revertida, a medida durará enquanto o estado seguir as condições impostas pelo RRF, que, mesmo sem o aval da ALMG, começou a ser implementado pelo governador, por meio de liminar do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na prática, Regime de Recuperação Fiscal será implementado

Também na quarta-feira (28), data para a qual havia sido estabelecido o limite para que o governador voltasse a pagar as parcelas da dívida, após solicitação de Zema e da Advocacia-Geral da União (AGU), o STF decidiu por manter a adesão do estado ao regime e determinou que seja apresentado um cronograma para cumprir as regras do RRF em até seis meses.

A medida é criticada pelos trabalhadores do funcionalismo público e enfrenta oposição por parte considerável dos deputados estaduais, incluindo parlamentares de partidos que compõem a base do governo na ALMG.

A adesão do governo mineiro ao RRF chegou a ser aprovada em primeiro turno pela ALMG em julho, porém, não foi votada em segundo turno em função das tentativas de estabelecer uma proposta alternativa junto ao governo federal e do aumento do prazo para que o estado voltasse a pagar a dívida.