Mais esse passo no genocídio perpetrado pelas forças de Netanyahu aos olhos do mundo foi precedido, minutos antes, de nova ordem de deslocamento da população de Khan Yunis em direção a Al Mawasi (uma área desértica e estreita já superpovoada e transformada em mais um aglomerado de tendas improvisadas), uma área que os israelenses chamam cinicamente de ‘Zona Humanitária’.

“Continuam a ocorrer bombardeios muito violentos e dezenas de famílias continuam a tentar fugir do leste de Khan Yunis sob as bombas”, observaram as testemunhas.

Na tentativa de justificar a barbárie, as Forças de Defesa de Israel (FDI) emitiram um comunicado afirmando que a evacuação seria necessária para iniciar uma operação militar contra a “infiltração do Hamas”, afetando mais de 400.000 pessoas. Autoridades palestinas chamaram essas alegações de falsas e disseram que elas não têm como dar alguma razão aos ataques.

Diante das ameaças, milhares de palestinos, muitos carregando mochilas, ou sacolas e acompanhados por crianças, foram mais uma vez forçados a caminhar por estradas poeirentas sob o sol escaldante do verão, os menos espoliados estão conduzindo carros velhos, abarrotados de pertences amarrados no topo. Muitos moradores foram desenraizados diversas vezes em busca de segurança durante a campanha genocida aérea e terrestre de Israel, uma segurança que, segundo a agência de socorro da ONU, UNRWA, simplesmente não existe em lugar nenhum na Faixa de Gaza.

TENDA DE JORNALISTAS COMO ALVO NO HOSPITAL AL-AQSA

O Exército israelense também atacou o hospital Al-Aqsa em Deir al-Balah, cidade palestina localizada na Faixa de Gaza, tendo como alvo a tenda dos jornalistas, localizada no pátio sanitário do centro de saúde. “Estávamos sentados e de repente ouvimos uma grande explosão”, disseram testemunhas do sucedido citadas pela Al Jazeera, afirmando que num primeiro momento não se aperceberam que a explosão vinha de dentro do hospital.

“Estamos falando de um lugar onde há milhares de palestinos deslocados e então vimos um incêndio e fumaça saindo”, continuou um dos jornalistas, acrescentando que as FDI atacaram uma área “onde as pessoas procuram refúgio”. “Até agora, as pessoas ainda estão tentando apagar o fogo”, concluiu. Da mesma forma, segundo a Al Jazeera, antes do ataque dezenas de colonos israelenses forçaram uma entrada na mesquita de Al-Aqsa para realizar os seus rituais, embora, de acordo com o ‘status quo’ estabelecido em 1967, apenas os muçulmanos possam rezar na mesquita de Al-Aqsa, que os fanáticos judeus agora insistem em profanar repetidamente.

Já no final desta segunda-feira, as autoridades de saúde do Hospital Nasser, em Khan Younis, pediram aos moradores que doassem sangue devido ao grande número de vítimas que estavam sendo levadas às pressas para o centro médico.

O Ministério de Saúde de Gaza confirmou que o número de mortos palestinos pelos ataques genocidas israelenses desde 7 de outubro aumentou para 39.006 pessoas, com mais 89.818 indivíduos feridos. A maioria das vítimas são mulheres e crianças.

Equipes de ambulância e resgate ainda não conseguem chegar até muitas das vítimas e corpos presos sob os escombros ou espalhados nas estradas do enclave devastado pela guerra, enquanto as forças de ocupação israelenses continuam a obstruir o movimento das equipes de ambulâncias e defesa civil.

PERIGO DE SURTO DE POLIOMIELITE

Logo após a localização da presença do vírus da poliomielite no esgoto de Gaza, os professores de saúde pública israelenses Paltiel Ronit Calderon-Margalit, A. Mark Clarfield, Eldad J. Dan, Nadav Davidovitch, Hagit Hochner, Orly Manor, Dorit Nitzan, produziram uma declaração conjunta reforçando a necessidade de um cessar-fogo imediato para que possa haver uma vacinação em massa dos dois lados da fronteira de Israel e Palestina para evitar a eclosão de uma danosa epidemia da doença que provoca morte e deficiência física.

As condições de falta de higiene, destruição de postos de saúde e assassinato de médicos e agentes da ONU criam as condições para a proliferação de vírus e bactérias que contribuem indiretamente para que a perda de vidas em Gaza ultrapasse os 180 mil palestinos assolados direta ou indiretamente pelo bombardeio e bloqueio.

“As condições criadas na Faixa de Gaza são apropriadas para a propagação de doenças infecciosas que podem ser prevenidas por vacinas. Elas incluem o deslocamento, acesso inadequado a água tratada, tratamento sanitário e falta de higiene, mal funcionamento do sistema de esgoto, abrigos superlotados, insegurança alimentar e o colapso do sistema de saúde, incluindo a falta de serviços de vacinação”, declaram os professores.

“O longo tempo de 120 reféns israelenses submetidos a cativeiro, assim como a presença de soldados na Faixa de Gaza também colocam estes grupos em risco ao lado dos que vivem em Gaza, alertam.

Eles finalizam destacando que “a identificação do vírus da pólio em Gaza nos mostra que os patógenos e as exposições tóxicas não conhecem fronteiras. Pólio pode se propagar por semanas através de indivíduos infectados que não apresentam sintomas. As consequências devastadoras desta doença são amplamente conhecidas”.