Posts nas redes enganam ao fazer crer que frutas e verduras falsas, feitas de material sintético, estão sendo vendidas em supermercados nos Estados Unidos. O boato foi desmentido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, pelo FDA, e por especialistas brasileiros da Embrapa e da UFSC consultados pelo Aos Fatos. O aspecto emborrachado e plastificado dos alimentos apresentados nos vídeos difundidos pelas peças enganosas é decorrente de uma desordem fisiológica que pode ocorrer em alimentos naturais.

Nas últimas semanas, moradores dos Estados Unidos têm publicado vídeos, principalmente no TikTok, em que alegam ter comprado frutas e verduras artificiais em supermercados pelo país. Pedaços de melancia e abacate, por exemplo, aparentam ter uma textura emborrachada. Já as verduras, como a alface, aparentam ter uma camada plástica ao redor das folhas. Esses elementos estéticos, no entanto, não provam que os alimentos são falsos ou sintéticos.

Em nota ao Aos Fatos, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos afirmou que a aparência relatada nos vídeos ocorre quando alimentos ficam congelados por muito tempo e depois são descongelados. “Frutas ou vegetais enrugados, flácidos, encharcados de água, de aparência vítrea, amolecidos, com vazamento de líquidos ou descoloração interna, tem seus valores comerciais reduzidos e os lotes são registrados em nossos documentos de inspeção.”

Já o FDA informou que não tem conhecimento de qualquer tecnologia que permita a produção de alimentos falsificados.

Especialistas brasileiros analisaram as imagens a pedido dos Aos Fatos e afirmaram que a aparência das frutas e verduras é decorrente de uma desordem fisiológica nos alimentos, que pode ter sido causada por problemas de refrigeração, como mencionado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos ou por outros fatores, tais como:

  • Problemas de amadurecimento da fruta, especialmente no amaciamento da polpa;

  • Uso inadequado de técnicas utilizadas para aumentar a vida útil das frutas, a exemplo dos inibidores e bloqueadores de etileno — regulador vegetal diretamente envolvido na maturação de frutos;

  • Efeito de temperaturas baixas durante o desenvolvimento e a maturação dos frutos ainda no campo.

“Esses efeitos deletérios podem ser potencializados quando ocorre o tratamento ou armazenamento de frutas mais ‘verdes’, muitas vezes colhidas prematuramente com a suposta vantagem de apresentarem maior período de amadurecimento e por terem maior resistência ao manuseio e transporte. Essa prática em geral se traduz em frutos de pior qualidade, a exemplo dos que vemos nos vídeos divulgados nas redes sociais”, afirmou o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Márcio Eduardo Canto Pereira.

Os pontos levantados por Pereira foram corroborados por Alcilene Rodrigues Monteiro Fritz, professora de engenharia de alimentos da UFSC.

“O abacate, por exemplo, quando cortado em um estágio cujo amadurecimento não está completo, ao cortá-lo, esse aspecto de borracha ocorre. No caso da melancia, a textura emborrachada pode ocorrer neste caso pela perda de água, que é 98% da composição da fruta. O mesmo acontece com a cenoura quando estocada em geladeira por um tempo prolongado, por exemplo”, disse Fritz.

Já no caso da alface, por exemplo, é possível notar que se trata de gelo, não plástico, o material translúcido que aparece ao redor das folhas.

Dicas. Os especialistas afirmam que, para evitar problemas, deve-se observar as seguintes características no momento da compra: casca sem enrugamentos, sem grandes manchas escurecidas ou áreas deprimidas; coloração normal da fruta, sem estar acinzentada ou descolorida; e aroma característico.