Nas últimas semanas manifestantes do setor trabalhista da Bolívia têm saído às ruas em protesto contra a crise econômica no país, que se reflete principalmente na inflação e na escassez de dólares.
Segundo uma matéria publicada pela agência de notícias Associated Press (AP), neste domingo (23/06), uma multidão de vendedores ambulantes em La Paz encerrou sua marcha de quase 100 quilômetros “com um apelo que convocou anos de raiva crescente sobre as reservas cambiais perigosamente esgotadas do país”.
“Podemos mudar o país porque somos o motor da produção”, disse Roberto Ríos Ibáñez, secretário-geral da Confederação de Comerciantes da Bolívia. “O governo não ouve. É por isso que estamos nas ruas.”
No final de maio, o veículo alemão DW relatou que “caminhões e barricadas, transportadores de cargas e comerciantes bloquearam diversas estradas que ligam a Bolívia ao Peru e ao Chile para denunciar a falta de dólares e a falta de divisas que o governo nega”. Além disso, registraram-se bloqueios nas principais vias em La Paz, Oruro e Santa Cruz.
Na ocasião, em entrevista, o vendedor Teodoro Gonzales, de 50 anos, criticou o governo ao afirmar que “nosso presidente (Luis Arce) diz que há dólares, mas nunca vemos, nem mesmo nos bancos, não há dólar para comprar”.
De acordo com a recente matéria da AP, o presidente boliviano, Luis Arce, e seu antigo aliado, ícone da esquerda e ex-presidente, Evo Morales, “lutam pelo futuro do fragmentado Movimento ao Socialismo (MAS) da Bolívia” antes das eleições previstas para 2025. E, em decorrência da atenção à luta política, o governo teria “paralisado os esforços para lidar com o crescente desespero econômico”.
Em 2019, o então primeiro presidente indígena da Bolívia, Morales concorreu a um terceiro mandato do qual saiu vitorioso. No entanto, foi contestado por alegações de fraude. O episódio desencadeou protestos em massa e levou o mandatário a renunciar e a sair do país.
Depois que um governo interino assumiu o cargo por meio de um golpe militar, o sucessor escolhido por Morales, Luis Arce, venceu as eleições com a promessa de campanha de restaurar a prosperidade da Bolívia, que já foi a principal fonte de gás natural da América Latina.
No entanto, o início da gestão na presidência em 2020 seguiu-se da pandemia do coronavírus, o que prejudicou todo o aparato econômico do país.
Após retornar do exílio, ainda muito popular entre as comunidades indígenas e trabalhadores sindicais, no ano passado Morales anunciou planos para concorrer às eleições de 2025, “colocando-se em rota de colisão com Arce, que deve tentar a reeleição”, como diz a AP.
“Enquanto isso, com a crise de caixa negando acesso a dólares para pagar fornecedores no exterior, comerciantes bolivianos produziram cenas extraordinárias na fronteira com o Brasil e o Peru ao clamar para comprar a moeda norte-americana a preços inflacionados nos países vizinhos”, afirma o veículo.
Crise no MAS
Os aliados de Morales no Congresso boliviano têm frustrado as tentativas de Arce de assumir dívidas que aliviariam a pressão econômica.
A Bolívia tem um tesouro de lítio, mas os legisladores não concedem a aprovação ao presidente para permitir que empresas estrangeiras o extraiam, uma vez que querem que os recursos naturais beneficiem a população nacional, e não as empresas mineradoras transnacionais.
Por outro lado, o atual mandatário considera o impasse um “boicote econômico” que tem como objetivo subverter sua presidência.
De acordo com a AP, as tensões que atingem o partido governista MAS oferecem à oposição uma “primeira chance válida” de chegar ao poder desde que Morales conquistou uma maioria eleitoral sem precedentes em 2005.