[…] o impacto tanto da agricultura comercial como do crescimento do Estado foi a redução progressiva da fiabilidade das garantias de subsistência até um ponto em que os camponeses não tinham praticamente outra alternativa senão a resistência.

SEGURO DE RISCOS NA ALDEIA

Se a necessidade de um mínimo garantido é um motivo poderoso na vida dos camponeses, seria de esperar encontrar padrões institucionalizados nas comunidades camponesas que satisfizessem essa necessidade. E, de facto, é sobretudo na aldeia – nos padrões de controle social e reciprocidade que estruturam a conduta diária – que a ética da subsistência encontra expressão social.

O princípio que parece unificar uma vasta gama de comportamentos é o seguinte: “A todas as famílias da aldeia será garantido um nicho mínimo de subsistência, na medida em que os recursos controlados pelos aldeões o tornem possível”.

O igualitarismo da aldeia, neste sentido, é conservador e não radical; defende que todos devem ter um lugar, um modo de vida, e não que todos devem ser iguais.

A força social desta ética, o seu poder protetor para os pobres da aldeia, variava de aldeia para aldeia e de região para região. Era, em geral, mais fortes nas áreas onde as formas tradicionais de aldeia estavam bem desenvolvidas e não tinham sido destruídas pelo colonialismo – Tonkin, Annam, Jaa, Alta Birmânia – e mais fraca nas áreas pioneiras mais recentemente colonizadas, como a Baixa Birmânia e a Cochinchina.

No entanto, esta variação é instrutiva, pois é precisamente nas regiões em que a aldeia é mais autónoma e mais coesiva que se encontram as mais fortes garantias de subsistência.

Assim, tendo controle sobre os seus assuntos locais, os camponeses optam por criar uma instituição que normalmente protege os mais fracos contra a ruína, fazendo certas exigências aos aldeões mais abastados.

A compreensão das garantias sociais informais da vida na aldeia é crucial para a nossa argumentação porque, como são sustentadas pela opinião local, representam uma espécie de modelo normativo vivo de equidade e justiça. Representam a visão camponesa de relações sociais decentes.

— Por James Scott.