Do outro lado da cortina de ferro, o britânico Stafford Beer levou a lei da variedade exigida de Ashby às últimas consequências, considerando que a economia de mercado, ao ter que restringir a geração espontânea de necessidades e iniciativas sociais dentro dos limites do que for lucrativo e ao simplificar toda informação às reducionistas variáveis monetárias, obrigou o metabolismo social a dinâmicas ciberneticamente “torpes”, cujas consequências humanas são dramáticas. Para ambos, o planejamento socialista superou claramente os mercados ao ser capaz de: ter acesso transparente a todas as informações econômicas, ser capaz de agir em reação imediata às novas necessidades dos cidadãos sem a mediação da lucratividade e ter a capacidade de previsão de fazer cálculos econômicos a longo prazo.
[…] Essa tarefa seria aprofundada em Classical econophysics (Econofísica clássica), onde o marxismo acabaria se conjugando com a cibernética. Assim, autores como Wright explicariam que o capital, como relação social de produção, é, em termos cibernéticos, um “sistema de controle” que visa se adaptar ao nosso ambiente biofísico, mas também geopolítico, por meio de um determinado ciclo de retroalimentação: unidades sociais atomizadas competem entre si por determinados nichos de consumo para rentabilizar monetariamente a sua atividade. [16] A lei do valor e sua fórmula básica, D-M-D’, [17] atuam como um padrão de validação que filtra iniciativas não lucrativas como “irracionais”. A conceituação de Marx do capital como um “sujeito automático” cuja “vontade” está acima até mesmo dos próprios capitalistas não é uma metáfora. [18] Os capitalistas, encorajados pela opulência ligada aos seus privilégios e assustados com a possibilidade de serem varridos pela concorrência, na realidade, nada mais fazem do que personificar ou executar os sinais de saída do sistema de controle ao qual estão subordinados.