Algo que não é mencionado o suficiente nas discussões sobre a ascensão de Hitler ao poder, é que antes dos nazistas já havia havido um golpe proto-fascista na Alemanha em 1920, conhecido como o Kapp Putsch. Entretanto, ele foi derrotado pela classe trabalhadora organizada.
Lembrando que o SPD foi o maior partido da classe trabalhadora em toda a Europa e várias revoluções estavam acontecendo na Alemanha. Por isso mesmo fascistas começaram a surgir e se organizar.
O golpe de Kapp Putsch foi apoiado por oficiais militares e capitalistas, e continha elementos nacionalistas e monarquistas. Seu objetivo era uma ditadura militar feita para esmagar o poder dos trabalhadores (o governo do SPD). Muitos de seus participantes se juntariam mais tarde ao partido nazista.
O golpe derrubou o governo do SPD, forçando os líderes governamentais social-democratas (SPD) a fugir. Mas em resposta, os trabalhadores de toda a Alemanha, de todos os partidos de esquerda, entraram em greve geral, unindo-se para acabar com a ditadura.
10 milhões de trabalhadores (social-democratas, social-democratas independentes e comunistas) entraram em greve, congelando a economia. Nada se moveu. Os líderes golpistas se tornaram impotentes, incapazes de fazer uma única coisa. Em 3 dias, eles foram forçados a se render.
Resgatados pela classe trabalhadora, os líderes do governo do SPD retornaram a Berlim e recuperaram os poderes do governo. No entanto, em seguida, fizeram concessões com os líderes do golpe, recusando-se a prendê-los, e até mesmo prometendo-lhes anistia.
Apesar de inicialmente ter sido um partido revolucionario/radical, o SPD deixou seu radicalismo após obter o governo. Sabotando inúmeras outras revoluções da classe trabalhadora na Alemanha, inclusive a República Socialista da Bavária.
Enquanto comunistas como Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht haviam sido assassinados sob ordens do SPD por tentativa de liderar uma revolta operária em 1919, os líderes de um golpe de extrema-direita foram tratados quase como amigos, e anistiados pelo SPD.
Em alguns lugares, os trabalhadores decidiram continuar a greve e radicalizar suas reivindicações, principalmente na região industrial do Ruhr, foram elementos revolucionários que continuaram a greve, formaram milícias de trabalhadores e fizeram reivindicações socialistas.
Em resposta, o governo do SPD utilizou as unidades militares de extrema-direita, muito dos mesmos que os derrubaram em um golpe de Estado alguns dias antes, a fim de esmagar brutalmente os trabalhadores.
Mesmo que muitos dos trabalhadores mortos no processo fossem membros do SPD, a liderança do SPD estava mais disposta a ficar do lado dos reacionários que os desprezavam, do que dos trabalhadores revolucionários pertencentes ao seu próprio partido. Mais de 1.000 rebeldes foram mortos no Ruhr.
Um dos soldados que levavam a cabo a repressão escreveu um relato devastadoramente brutal.
Agora estou finalmente com minha empresa. Ontem de manhã cheguei à minha empresa e às 13h fizemos o primeiro assalto. Se eu fosse escrever tudo, você diria que são mentiras. Nenhuma misericórdia é mostrada. Nós atiramos até mesmo nos feridos. O entusiasmo é maravilhoso, quase incrível. Nosso batalhão tem mortos vermelhos 200 a 300. Qualquer um que cai em nossas mãos recebe primeiro a coronha da arma e depois a bala. Durante toda a ação, pensei na estação A. Isso se deve ao fato de que também matamos instantaneamente dez enfermeiras de traição, cada uma delas carregando uma pistola. Disparamos com alegria contra essas abominações, e como eles choraram e suplicaram! Nada feito! Quem quer que seja encontrado carregando armas é nosso inimigo e é feito". Membro da Epp Brigade.
Na sequência, o apoio dos trabalhadores ao SPD caiu drasticamente, e as divisões já existentes entre os trabalhadores se aprofundaram drasticamente. Devido a hostilidades partidárias, os trabalhadores alemães nunca mais seriam capazes de atingir este nível de ação unificada, mesmo quando mais necessário.
Fonte: @PhilosophyCuck (twitter).
Se isto lhe interessa, ele está atualmente no processo de fazer uma série de vídeos sobre a revolução alemã. Neste momento, o plano é cobrir o Kapp Putsch na parte 4.
Recomendação de leitura: Os livros mais centrais são:
- “Failure of a Revolution” por Sebastian Haffner.
- “Working-Class Politics in the German Revolution” by Ralf Hoffroge.
- “The German Revolution, 1917-1923” by Pierre Broué.
Adicionalmente, “All Power to the Councils!” de Gabriel Kuhn que narra como testemunha de dos eventos. Como também “Revolutionary Berlin: A Walking Guide”.
E por último, a biografia de Rosa Luxemburg por Netti.