A poucos metros da avenida Paulista, um ato silencioso ecoou forte contra a impunidade e a violência de Estado. A 5ª edição da Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado reuniu neste domingo (6) centenas de pessoas em São Paulo para homenagear vítimas da ditadura militar e pedir a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Com flores, velas, faixas e cartazes com rostos de desaparecidos, manifestantes caminharam do antigo DOI-Codi – símbolo da repressão durante o regime militar – até o Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, no Parque Ibirapuera.

“Ditadura nunca mais”

O lema do ato, “Ainda estamos aqui”, foi inspirado no filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que resgata a história de Eunice Paiva e seu marido, o deputado Rubens Paiva, desaparecido político. A frase resume o espírito do movimento: resistir, lembrar e lutar por justiça – especialmente em um momento em que bolsonaristas pedem anistia para golpistas.

A psicóloga Vera Paiva, filha de Rubens e Eunive, destacou o simbolismo do silêncio como forma de protesto:

“Com velas nas mãos, com rosas nas mãos, homenageando os nossos mortos, dizemos: ditadura nunca mais! Pela vida e pela paz".

Bolsonaro e os golpistas

No mesmo dia da Caminhada do Silêncio, Jair Bolsonaro reuniu apoiadores na avenida Paulista em defesa da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Enquanto o ex-presidente discursava, participantes da caminhada exigiam sua prisão, apontando-o como líder da tentativa de golpe de Estado. Também foi pedido o indiciamento do general José Antônio Belham, responsável pelo assassinato de Rubens Paiva.

“O nosso objetivo é fazer esse ato todo ano. Cada vela acesa é uma afirmação contra a impunidade e contra os discursos de ódio que voltaram a ganhar espaço”, disse Vera Paiva.

Violência policial

A mobilização deste ano ampliou o debate para além da ditadura. Denunciou também a violência policial atual, que atinge principalmente jovens negros e periféricos.

Lorrane Rodrigues, do Instituto Vladimir Herzog, reforçou essa conexão entre passado e presente. “Estivemos mais próximos de movimentos que discutem a violência de Estado no Brasil contemporâneo. Essa caminhada também é sobre hoje", declarou.

Já a procuradora Eugênia Gonzaga, presidenta da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, foi enfática. “Esses atos continuam se repetindo. Hoje, defendem quem executa sem julgamento. Precisamos de responsabilização", pontuou.

A Caminhada do Silêncio foi organizada por entidades como o Núcleo de Preservação da Memória Política, o Instituto Vladimir Herzog e a OAB-SP, com apoio de organizações como a Anistia Internacional, a Comissão Arns, a UNE e o mandato do deputado Antonio Donato (PT) – autor da lei que tornou o evento parte do calendário oficial da cidade.