Eu acho que ao usarmos o inglês para nos conectar com o mundo, acabamos atraindo muito a América do Norte e reforçando esse domínio que a América do Norte tem sobre o debate internacional, principalmente através da tecnologia.

Esse não é um problema muito brasileiro, já que vejo poucos brasileiros gravando material em inglês para alcançar o mundo, mas sim um problema mais europeu e indiano. Como vocês acham que é possível ultrapassar essa barreira no caso brasileiro? Gravar em espanhol afastaria os brasileiros do conteúdo, mas mesmo assim é necessária uma integração com a América Latina.

Como desfazer a posse que o inglês e a América do Norte tem sobre a cultura mundial (e da Internet)? Estou cansado das mesmas gírias e debates tão particularmente estadunidenses. Aprendi inglês para me comunicar com o mundo e hoje conheço a maioria das capitais dos EUA, mas tão pouco sobre o resto da América.

Finalmente, como ampliar esse debate além das Big Techs (também estadunidenses) para termos uma solução verdadeiramente soberana? O Google pode disponibilizar transcrições e traduções no seu conteúdo e nos vídeos do Youtube, mas como tomar posse dessa tecnologia para um debate além dos Estados Unidos? O que vocês acham?

  • obbeelOP
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    19 days ago

    Encontrei no XMPP alguns grupos que falam em espanhol que parecem ser argentinos, então me parece que há uma evolução por esse lado. Mas acho que o espanhol é a língua que tem mais chance de unificar uma comunicação latinoamericana. É mais fácil imaginar uma “Big Tech” latinoamericana, como por exemplo uma rede social em espanhol para unir as comunidades latinoamericanas, do que uma “Big Tech” em português com o mesmo fim. Talvez a tradução por computador não seja perfeita, mas é o que temos mais próximo para fazer com que as pessoas se entendam.

    Como você disse, tem uma concentração da comunicação nessas empresas, e isso não é um molde fácil de quebrar, especialmente com um empresariado tão vendido aos interesses dos EUA. Como conseguir o investimento para criar uma empresa latinoamericana de rede social e tecnologia quando conversamos com pessoas que não entenderiam nem o fim que tal empresa teria? É muito difícil. E o Brasil se deixou estruturar por esses interesses. Tudo no Brasil é NVIDIA, Oracle e Microsoft - e olha que somos vistos como uma região de pouco interesse internacional em iniciativas empreendedoras nacionais, ao menos na tecnologia.

    Lembro que a UOL e outras empresas chegaram a tentar, com o UOL Mais (era uma alternativa ao YouTube, que as pessoas criavam seus próprios vídeos) e o MinhaTeca (site de compartilhamento de arquivos que foi fechado pela Justiça), mas a voracidade do Google foi mais longe em acabar com a oposição.

    O brasileiro comum tem que entender a importância de ter uma empresa nacional ou latinoamericana que faça esse serviço. Enquanto não houver, estaremos presos nesse cenário. Você conversa com pessoas da tecnologia, e elas estão sempre falando que produtos dos EUA são bons e China são xing-ling. Essa visão ainda é predominante no cenário tecnológico brasileiro e vai ser difícil chegarmos em algum lugar de destaque com essa visão. Para acessar esse tipo de visão, basta visitar os fóruns do Clube do Hardware ou o Adrenaline. É impressionante como estamos distantes de uma visão tecnológica nacional olhando por esse lado.

    O cenário não é nada animador pra quem quer construir alguma coisa de importância para o Brasil, e a fuga (de correr para longe mesmo) de cérebros é real e as pessoas vão lá tentar a sorte na Europa. Precisamos que as pessoas fiquem e que sejam valorizadas ao tentar construir algo de valor para o Brasil. Vi o desenvolvedor do Tucano (uma LLM feita por um brasileiro usando um corpus brasileiro chamado GigaVerbo) apresentando o modelo e os questionamentos dos presentes na conversa não foram nada bons, com um representante da NVIDIA chegando a perguntar se eles (o projeto era de mais de uma pessoa) tinham usado tecnologia da NVIDIA para desenvolver o modelo. É um horror.

    Mas tudo precisa começar em algum lugar. Acho que o Fediverso e o Open-Source, especialmente o conceito de Small Web, têm futuro para o Brasil, sendo necessário que a tecnologia brasileira ganhe destaque pelo menos no cenário nacional. O Brasil é bom de TI, temos o Elixir e a Lua, além de várias outras iniciativas brasileiras que foram importantes. Precisamos chegar em algum lugar.